ARTIGO: Marcha das Margaridas – Por Francielen Coden do Nascimento

“Os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas, mas jamais poderão deter a primavera inteira”. (Fidel Castro)

 

Começo com essa frase, devido aos seus muitos significados, que envolvem luta e resistência contra um sistema opressor e que se intensificam quando você se identifica como mulher. Todas sabemos, e sentimos diariamente na pele, que nossos corpos “femininos” são ensinados e motivados pelo sistema (educação, religião, mídia) a ser submissos, obedientes e a aceitar aquilo que já é planejado para nós no dia do nosso nascimento. Mas você já pensou o que pode estar por trás disso? Nós somos consideradas pelo Capital como ferramenta provedora de mão de obra passível de produzir lucros. Como tudo nessa sociedade a qual vivemos, o lucro de poucos está no centro e manobra as convicções da população para que isso seja possível. Portanto, nossa luta histórica e constante contra padrões pré-estabelecidos de estética, de formas de agir e pensar, de carreira profissional, são na real contra o Capital e suas artimanhas.

A quebra dos padrões a nós impostos sempre gerou consequências para aquelas que buscaram seguir seus instintos e lutar por algo diferente. Isso fica perceptível quando se ouve sobre a história de Margarida Maria Alves, paraibana, mãe, esposa, e líder sindical que lutou por direitos básicos (como carteira assinada, férias, 13º salário, jornada de 8 horas, educação) para trabalhadores rurais. Ela se tornou um símbolo de resistência, incentivando mais mulheres a participar ativamente da luta contra o sistema que oprime os mais vulneráveis. Entretanto, essa contrariedade aos padrões pré-estabelecidos de gênero causou um grande impacto para os donos do capital da região, principalmente devido a repercussão e conquistas de sua luta para os trabalhadores.

Margarida foi assassinada no final da tarde de 12 de agosto de 1983 com um tiro no rosto, na frente de seu filho e marido, enquanto contemplava o final do dia pela janela de sua casa. A história conta que após o acontecido, as luzes da cidade foram apagadas, talvez com o intuito de esconder os autores e calar uma mulher forte e potente em seus posicionamentos. Os autores e mandantes desse crime nunca foram julgados e condenados, assim como tantos outros crimes bárbaros com fins de calar as vozes do povo, OU TENTAR.

Mulheres de todo o Brasil e de 31 países (trabalhadoras do campo, da floresta, das cidades e das águas) se reuniram em uma marcha pelas ruas de Brasília visando relembrar e homenagear a luta de Margarida. Mais de 100 mil mulheres participaram da 7° Marcha das Margaridas que teve como título esse ano “margaridas em marcha pela reconstrução do Brasil e o Bem viver”. Diversas pautas foram apresentadas ao poder público e algumas já possuem resultado, com projetos e programas que irão gerar mais dignidade a todas e todos. Desta forma, marchamos por direitos básicos, relembrando aquelas que “preferiram morrer lutando do que de fome” (Margarida Maria Alvez). Mas, principalmente, para que nós mulheres possamos viver livres da forma que decidirmos, com dignidade humana e SEM MEDO.

Quase concluindo, preciso levantar mais uma análise que me ocorre e que vai de encontro a tudo citado acima. Estamos em um momento histórico em que a ganância excessiva do Capital (que não sabe mais para onde expandir) influência a política com o intuito de controlar as empresas públicas de saneamento do país e lucrar com a água, mesmo isso indo totalmente na contramão do que outros países estão fazendo. A água não pode ser tratada como mercadoria, pois é essencial a vida humana, logo não podendo ser privada (pois quando tudo for privado seremos privados de tudo). Com isso e considerando a marcha como mais um espaço de demonstração da luta popular pelos direitos básicos de todas e todos, marchamos também pelo saneamento público e de qualidade.
Com certeza, utilizarei daquilo que vivenciamos nesses dias para fortalecer minhas convicções, pois participar desse evento me fez lembrar da força da mobilização popular e o quanto essa pode ser imponente quando organizada.
Margarida Alvez e tantas outras mulheres fortes e potentes serão lembradas como exemplos de luta e resistência feminina contra as muitas artimanhas do Capital. Se o intuito era calar, o efeito foi justamente contrário.
Por isso, repito minha frase inicial com algumas alterações que ouvi durante esses dias em Brasília:
“Podem matar uma Margarida, mas jamais poderão deter a força das milhares de Margaridas dispostas a lutar e resistir”.

Franciele é  integrante da Comissão de Mulheres do Sindiágua/RS e participou  da 7º edição da Marcha das Margaridas realizada em  Brasília nos dias 15 e 16 de agosto de 2023.

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