Forte cheiro de escândalo no processo que pretende privatizar a Corsan (por Arilson Wunsch)

Informação privilegiada? Espionagem industrial? Dúvidas para uma sindicância interna e uma intervenção dos órgãos de fiscalização e controle

 

O Governador Eduardo Leite revisou em 2020 o Código de Ética da Corsan. Uma revisão para tentar calar qualquer funcionário que ouse contestar, por exemplo, os números falaciosos que o governo anuncia na tentativa de privatização. Assim é quando o governo diz que a Corsan tem apenas 17% de cobertura de esgoto. Caso o funcionário demonstre que o número real é 42% pode sofrer consequências.

O governo obriga o funcionário a assinar documento dizendo que está ciente deste “novo” código de ética. Aliás, o funcionário da Corsan está sob constante ameaça pelo governo Leite. Diz lá no Código de Ética:

“É VEDADO:

a) Permitir que suas preferências ou interesses pessoais interfiram em suas decisões profissionais, em detrimento dos interesses da Companhia
(…)
c) Repassar, divulgar ou fazer uso de informações privilegiadas obtidas em razão das atividades exercidas.

– Caso você tenha, por força de sua função ou de suas responsabilidades, acesso a informações estratégicas ou confidenciais – sobre a Corsan ou empresas parceiras – ainda não divulgadas publicamente, não compartilhe com terceiros.”

Aos fatos:

Júlio Hofer comandou o setor de Distribuição da CEEE desde 2015, ficando até maio de 2018. Lá preparou aquela parte da CEEE para logo depois a empresa Equatorial Energia oferecer o modesto valor de R$ 100 mil e abocanhar o setor de distribuição da estatal. Em maio de 2019 Hofer assume a Diretoria de Expansão da Corsan. Esta Diretoria é estratégica na estatal. Abriga desde projetos, planejamento, gerenciamento de contratos e obras. Ou seja, é a Diretoria que tem as informações mais relevantes e que define os rumos da Corsan.

Como todos sabem o governador Leite está anunciando sua tentativa de privatizar a Corsan. Em 17 de maio de 2021, para surpresa de zero pessoas, através da imprensa, a empresa Equatorial Energia anuncia seu interesse de comprar a Corsan. Talvez imaginando gastar mais uns R$ 100 mil esta empresa quer comprar mais uma estatal onde Júlio Hofer é, ou foi, diretor.

No dia 9 de julho, Júlio Hofer, ainda como Diretor de Expansão da Corsan determina aos seus subordinados que seja providenciado um backup de seu computador funcional. Segundo informações extra oficiais, a determinação era para que fosse providenciado um HD externo para comportar todas as informações que Hofer queria. O que poderia incluir até o Plano de Expansão da Companhia. (O autor desse texto tem prova documental sobre a solicitação de backup).

Algum funcionário poderia pensar: Que estranho! Por que o Diretor vai querer tanta informação da Corsan na sua vida pessoal a ponto de encher um HD externo? O que o Diretor fará com o Plano de Expansão da Companhia na sua vida pós Corsan? A dúvida não permaneceria por muito tempo. Na quarta, 14 de julho, Hofer deixava a Diretoria de Expansão da Corsan.

Na quinta, 15, ele assumia o cargo de Superintendente Técnico em uma empresa privada. Qual empresa? Sim. A Equatorial Energia, a mesma que planeja comprar a Corsan. Qual o volume de informações privilegiadas que esta empresa terá (ou já tem) sobre a Corsan?

O Backup total do computador foi repassado ao então Diretor?

O Plano de Expansão da Corsan (informação estratégica) foi junto com o Diretor?

O Código de Ética da Companhia tem como destinatários apenas os funcionários não graduados?

O Presidente da Corsan sabia de tudo isto e autorizou mesmo assim?

São dúvidas que somente uma Sindicância Interna somada a uma intervenção dos órgãos de fiscalização e controle do Estado poderão elucidar. Mas que, desde já, é um escândalo, isto não há dúvidas. Prova que na privatização tanto da CEEE quanto nesta tentativa sobre a Corsan, o interesse não é o bem do Rio Grande, mas sim o interesse privado.

(*) Presidente do SINDIÁGUA-RS

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